quarta-feira, 30 de abril de 2008

Suicide Songs

Em fevereiro desse ano foi lançado o disco de Vinícius Gageiro Marques, ou Yoñlu, seu nome na internet. O cd, também chamado de Yoñlu, é o legado deixado aos seus pais pelo menino que se suicidou aos 16 anos, incitado por sites e chats.

Yoñlu não se sentia à vontade nesse mundo, o que é bastante usual na adolescência. Mas ele não era um adolescente comum. Superdotado e dono de uma sensibilidade enorme, aos 12 anos já tinha lido Kafka. Filho de um professor universitário, que já foi Secretário de Cultura do Rio Grande do Sul, e de uma psicanalista, morou na França e foi afalbetizado em Francês aos 4 anos. Os pais permitiram o grande desenvolvimento cultural do garoto, estimulando-o de diversas formas.

Yoñlu suicidou-se no dia 16 de julho de 2006, às 15h30. Não era a primeira vez que tentava o suicídio. O garoto estava nos dois meses anteriores a sua morte em internação domiciliar por recomendação do psicólogo que o acompanhava. Os pais nunca o deixavam completamente só. Yoñlu, então, traçou uma estratégia para consumar o seu suicídio. Disse aos pais que gostaria de fazer um churrasco para os amigos, o que deu a impressão de que ele estava melhor. Os pais, contentes com a iniciativa do filho, passaram o dia fora.

Yoñlu tinha, então, o dia livre para executar o seu plano. O método escolhido foi intoxicação por monóxido de carbono, que segundo ele, em carta deixada aos pais, "é indolor e preserva o corpo intacto, mas demora, e se a pessoa é resgatada antes de morrer fica com graves lesões cerebrais e torna-se um vegetal”. Yoñlu colocou duas churrasqueiras portáteis queimando em um banheiro e se trancou nele. Durante todo o tempo, foi orientado e estimulado por sites e internautas.

O garoto não é o primeiro a se matar induzido por vozes anônimas na internet. Alguns países, inclusive, já tomaram providências para coibir a ação desses sites. No Brasil, induzir, instigar ou auxiliar o suicídio é crime previsto no artigo 122 do Código Penal. Aqui, entretanto, nenhuma medida coercitiva foi tomada com relação à modalidade virtual do crime. No caso de Vinícius, o inquérito foi concluído sem que ninguém fosse indiciado ou sequer identificado.

O cd deixado por Yoñlu contém as suas 23 músicas prediletas, das 60 feitas por ele. Lançado em fevereiro desse ano pela Allegro Discos, foi gravado em sua casa, no seu estúdio improvisado.



Veja também:
Matéria da Revista Época sobre Yoñlu
Entrevista com o psiquiatra de Yoñlu para a Revista Época